Trabalhadores do
transporte coletivo de Rio Grande paralisaram na tarde de ontem as atividades
em busca de segurança, durante duas horas a Rua General Netto esteve
interditada para que o ato pudesse ser realizado. Com o apoio de um carro de
som do Sindicato dos Rodoviários de Pelotas o Presidente do sindicato local
comandou o movimento, que durante todo o momento foi pacífico e contou com uma
grande participação da classe. A paralisação foi organizada em virtude do
elevado número de assaltos, desde o início do ano foram registradas mais de 240
investidas, o que mostra uma total situação de insegurança, pois este número
assemelha-se aos assaltos realizados em Porto Alegre, onde a frota corresponde
a mais de 1300 coletivos. De acordo com informações colhidas, as ações estão se
tornando cada vez mais violentas, em uma delas um motorista foi alvo de facadas
e uma criança acabou ficando na mira de outra, causando uma verdadeira situação
de pânico. Desde o início da tarde o número de coletivos já era reduzido e as
paradas cada vez mais lotadas deixavam todos inconformados e davam conta do
problema que estaria por vir nas próximas horas.
A usuária Andréia
Silva, moradora do bairro Parque São Pedro, diz que não vê outro jeito de se
reivindicar, ela acredita que o governo do estado deva se mobilizar de alguma
maneira, pois o transporte coletivo é um serviço essencial e que deve contar
com mais segurança. Ao ser questionada se já havia sido assaltada, Andréia
respondeu que não, porém contou que um amigo já foi vítima, ele teve seus
pertences roubados por dois homens armados que invadiram o coletivo das 22:30
em que ele estava.
Durante a
mobilização conversamos com o cobrador Claudiomiro Bitencourt, ele que está na
profissão há 16 anos contou que já foi diversas vezes assaltado, porém as duas
últimas ações lhe renderam uma licença do serviço. Segundo ele, em um dos
assaltos uma arma foi colocada em sua boca e sob ameaça teve de entregar todo o
dinheiro existente no caixa. Já o segundo, não menos grave, fez com que ele
tivesse de ser atendido no hospital de cardiologia, pois um dos assaltantes
colocou em seu pescoço uma faca e a todo o momento ameaçava lhe ferir.
Bitencourt finalizou dizendo que deve haver mais segurança e não entende como
que a polícia prende e no outro dia os bandidos já estão soltos cometendo
delitos novamente.

COBRANÇA DE PASSAGEM CAUSOU INDIGNAÇÃO DOS USUÁRIOS:
Um dos pontos
destacados ao longo da manifestação pelos passageiros foi a cobrança da
passagem, usuários que aguardavam os coletivos na parada ingressaram nos ônibus
que logo pararam e foram obrigados a descer, perdendo assim a passagem paga e
por consequência o direito de integração. Para o vigilante Antônio Marcos, a
mobilização dos motoristas é valida, mas naquele momento os usuários acabaram
sendo prejudicados. “Isto também é uma forma de assalto” finalizou. Sua irmã, Maria
Alice, questionava-se sobre o ressarcimento da passagem gasta e não sabia se o
dinheiro seria devolvido. Ela concluiu dizendo que se a manifestação era do
conhecimento de todos a passagem nas catracas deveria ser livre nos horários
que antecederam o protesto.
Conversamos
ainda com o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Ronaldo Coelho, que expôs
os problemas enfrentados pelos funcionários e pelos passageiros no dia-a-dia
com os constantes assaltos.
BP - Qual a
chance deste protesto atingir o seu objetivo?
Ronaldo Coelho –
“A
esperança é que o pessoal na capital possa ter conhecimento do que está
acontecendo por aqui, se não tivessem problemas não estaríamos aqui, mas chegou
a um limite que não dá para aguentar mais, são mais de 240 assaltos, a situação
está fora de controle. Gostaríamos de uma solução e quem pede não são somente
os funcionários, mas também os usuários que são vítimas iguais.”
BP – Caso esses
assaltos persistam, qual será a atitude a ser tomada?
Ronaldo Coelho –
“Se
não tivermos uma solução, se não houver um aumento de efetivo para a Brigada
Militar e para a Polícia Civil nós vamos paralisar de novo, mas dessa vez irá
causar transtornos mesmo, não que agora não esteja gerando, mas será bem maior.
Queremos que não chegue a este extremo!”.
BP – Ronaldo, de
que forma essas investidas estão refletindo no desempenho profissional destas
vítimas?
Ronaldo Coelho –
“Muitos
motoristas e cobradores estão se afastando em virtude de problemas psicológicos,
levando inclusive estes problemas para dentro de casa, afetando totalmente a
vida do trabalhador. Esperamos que com esta manifestação tenhamos alguma
resposta e o trabalhador se sinta seguro, pois dessa forma não dá, depois das
19h tu não sabes se vais chegar em casa ou não.”
BP – A situação
vivida não seria o momento oportuno para a instalação de câmeras nos
coletivos?
Ronaldo Coelho –
“Já
tratamos sobre isso com as empresas e tivemos um problema muito grande, as
imagens ficam fora de foco, foram instaladas duas câmeras e pudemos perceber
isso. Por conta disso o pessoal está meio receoso de colocar, mas esta seria
uma boa saída em curto prazo.”